Após 13 anos de tramitação no Congresso Nacional, a
reforma do Código Florestal passou pela última etapa de votação ontem na Câmara
com uma importante derrota para o governo Dilma Rousseff. A derrota só não foi
maior porque os ruralistas se viram impedidos de garantir anistia ampla para os
desmatadores, conforme desejavam. A recuperação das áreas desmatadas -
principal polêmica que opôs ambientalistas e ruralistas - será objeto de novas
batalhas no Congresso.
O novo Código Florestal, que segue para a sanção da
presidente, determina que propriedades rurais com rios de até 10 metros de
largura terão de recuperar uma faixa de 15 metros em cada margem. Há atenuantes
nessa regra para os pequenos produtores. Mas o texto é omisso sobre o que fazer
com propriedades que têm rios mais largos.
Os efeitos dessa omissão dividem a opinião de
especialistas. Para representantes do agronegócio, as demais Áreas de
Preservação Permanente (APPs) serão recuperadas com base em regras a serem
definidas pelos Estados. Para técnicos do governo, poderá valer a regra geral
aprovada para a proteção das margens de rios, que prevê entre 30 metros e 500
metros de vegetação ripária, dependendo do tamanho dos rios.
Etapa. Apesar de reunirem uma larga maioria de
votos na Câmara, os aliados do agronegócio perderam na questão mais importante
em jogo nessa última etapa da votação. O relator Paulo Piau (PMDB-MG) teve de
mudar mais uma vez seu texto porque não podia mais liberar os produtores rurais
de recuperem parte das APPs. A exigência havia sido aprovada pela Câmara e pelo
Senado e não poderia simplesmente desaparecer. Os ruralistas se convenceram de
que a disputa iria parar no Supremo Tribunal Federal e recuaram.
'O governo ganhou por W.O., por uma questão do
regimento', disse o relator. 'Tem muita gente de cabeça baixa aqui', completou
Piau, que também é produtor rural e integrante da Frente Parlamentar da
Agropecuária.
O texto do relator foi aprovado por 90 votos de
diferença, 1 voto a menos do que os ruralistas conseguiram reunir em maio, na
maior derrota política imposta à Dilma Rousseff em seu primeiro ano de mandato.
Na ocasião, a Câmara dispensou os produtores rurais de recuperarem áreas
desmatadas até 2008, o que equivalia a uma anistia ampla aos desmatadores.
O placar registrou 274 votos a favor do relatório
de Piau contra 184 de apoio à proposta defendida por Dilma Rousseff, aprovada
por acordo no Senado, em dezembro. Nas demais votações da noite, o governo
também perdeu. Em uma delas, os chamados apicuns, áreas de manguezais que abrigam
a produção de camarão, deixaram de ser classificadas como APPs. No Senado, um
acordo havia definido limites à ampliação das áreas de cultivo do camarão no
Nordeste.
Questionada pelo Estado ontem à noite, Dilma
Rousseff não se manifestou sobre o resultado da votação. O Estado apurou que a
presidente não ficou satisfeita com o tratamento dado às áreas desmatadas até
2008, mas ainda não se decidiu sobre o veto a parte do texto.
O resultado da votação claramente impõe um novo
round de debates para a recuperação das áreas desmatadas, sobretudo às margens
de rios, consideradas mais importantes na proteção dos recursos hídricos.
Segurança jurídica. A ministra do Meio Ambiente,
Izabella Teixeira, disse à noite que, numa primeira avaliação, o texto aprovado
pela Câmara não garante 'o tão almejado equilíbrio entre a produção e a
proteção do meio ambiente'. Segundo a ministra, a segurança jurídica tampouco
foi alcançada, já que resta no texto uma lacuna sobre como será a recuperação
às margens de rios com mais de 10 metros de largura.
Insatisfeitos com o resultado, os ruralistas já
prepararam projeto de lei para estabelecer faixas menores do que 15 metros para
a recuperação das margens de rios nas propriedades, anunciou o vice-presidente
da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Homero Pereira (PSD-MT).
No caso dos rios mais estreitos, a recuperação cai
para cinco metros, de acordo com a proposta, que prevê também antecipar a
suspensão das multas aos desmatadores para imediatamente após a aprovação da
nova lei, e não a partir do compromisso assumido pelos proprietários rurais de
regularizar seus imóveis, por meio do Cadastro Ambiental Rural. 'Recuperar 15
metros , como ficou no Código, é muito para a agricultura brasileira', insistiu
o relator Paulo Piau.
Para permitir que o Senado assuma o comando da nova
fase da discussão, os senadores Jorge Vianna (PT-AC) e Luiz Henrique (PMDB-SC)
protocolaram ontem mesmo projeto de lei com regras para a regularização
ambiental das propriedades.
*Fonte:MARTA SALOMON/BRASÍLIA, estadao.com.br
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