O ser humano moderno criou o tempo livre e perdeu o sentido da festa. É
necessário recuperar o sentido da festa, e de modo particular do
domingo, como “um tempo para ser humano”, aliás, “um tempo para a
família”. Voltar a encontrar o centro da festa é decisivo também para
humanizar o trabalho, para lhe atribuir um significado que não o reduza a
ser uma resposta às necessidades, mas que o abra ao relacionamento e à
partilha: com a comunidade, com o próximo e com Deus.
Atualmente, a festa como “tempo livre” é vivida no contexto do “fim de
semana”. Em vez do descanso e da santificação privilegia-se a diversão, a
fuga das cidades, e isto influi sobre a família, principalmente se tem
filhos adolescentes e jovens. Os membros da família tem dificuldade de
encontrar um momento de relacionamento familiar. O domingo perde a sua
dimensão de dia do Senhor e é vivido mais como um tempo “individual” do
que como um espaço “comum”.
O tempo livre no domingo torna-se com frequência um dia “móvel” e corre o
risco de não ser mais um dia “fixo”, dificultando o encontro familiar.
As pessoas não descansam somente para voltar ao trabalho, mas para fazer
festa. É mais oportuno do que nunca que as famílias voltem a descobrir a
festa como lugar do encontro com Deus e da proximidade recíproca,
criando a atmosfera familiar sobretudo quando os filhos são pequenos. As
realidades vividas nos primeiros anos na família de origem permanece
inscrito para sempre na memória do ser humano. Também os gestos da fé,
no dia do domingo e nas festividades anuais, marcam a vida da família,
sobretudo no encontro com o mistério santo de Deus e contribui para a
reforçar os relacionamentos familiares.
O encontro com Deus e com o outro é o âmago da festa. A mesa dominical,
em casa e com a comunidade, é diferente daquela de todos os dias: a de
cada dia serve para sobreviver, mas a do domingo serve para viver a
alegria do escuta e comunhão, disponibilidade para o culto e a caridade.
A celebração e o serviço são as suas formas fundamentais da lei, com as
quais se honra a Deus e se recebe a sua dádiva de amor: no culto, Deus
comunica-nos gratuitamente a sua caridade; no serviço, o dom recebido
torna-se amor compartilhado e vivido com os outros. O dies Domini (dia
de Deus) deve tornar se, inclusive, um dies hominis (dia do homem). Se a
família se aproximar deste modo da festa, poderá vivê-la como o “dia do
Senhor”.
Para experimentar a “presença” do Senhor ressuscitado, a família é
exortada aos domingos em especial a deixar-se iluminar pela Eucaristia. A
missa torna-se a celebração central, viva e pulsante do dia do Senhor,
da sua presença de Ressuscitado aqui e agora. A eucaristia concede-nos a
graça de celebrarmos o mistério santo de que vem ao nosso encontro. No
domingo, a família encontra o sentido e a razão da semana que se inicia.
Participando na missa, a família dedica espaço e tempo, oferece energias
e recursos, aprende que a vida não é feita unicamente de necessidades a
atender, mas de relações a construir. A gratuidade da eucaristia
dominical exige que a família participe na memória da Páscoa de Jesus.
Na missa, a família alimentasse na mesa da palavra e do pão, que dá
sabor e sentido às palavras e ao alimento cotidiano compartilhado à mesa
da família.
Desde crianças, os filhos têm o direito de serem educados para a escuta
da palavra, para descobrir o domingo como “dia do Senhor“. A memória do
Crucificado Ressuscitado marca a diferença do domingo em relação ao
tempo livre: se não nos encontrarmos com Ele, a festa não se realiza, a
comunhão é apenas um sentimento e a caridade se reduz a um gesto de
solidariedade, que não constrói a comunidade cristã e não educa para a
missão. A eucaristia do domingo enquanto nos introduz no coração de
Deus, faz a família, e a família, na comunidade cristã, faz de um certo
modo a Eucaristia.
O dia do Senhor faz viver a festa como um tempo para os outros, dia da
comunhão e da missão. A Eucaristia é memória do gesto de Jesus: isto é o
meu corpo entregue, isto é o meu sangue derramado por vós e por todos. O
“por vós e por todos” vincula intimamente a vida fraterna (por vós) e a
abertura a todos (por todas as pessoas). Na conjunção “e” encontra-se
toda a força da missão evangelizadora da família e da comunidade: é
doado a nós, a fim de que venha a ser para todos.
A Diocese e a Paróquia constituem a presença concreta do Evangelho no
centro da existência humana. Elas são as figuras mais conhecidas da
Igreja, pela sua índole de proximidade e de acolhimento em relação a
todos.
Na Paróquia as famílias, “Igreja doméstica”, fazem com que a comunidade
paroquial seja uma Igreja no meio das casas das pessoas. A vida
quotidiana, com o ritmo de trabalho e de festa, permite ao mundo entrar
no seio da família integrando os membros da família ao mundo.
A comunidade cristã é convidada a cuidar das famílias, ajudando-as a
evitar à tentação de se fechar no seu “apartamento”, no seu “mundinho” e
abrindo-as aos caminhos da fé. O dia do Senhor torna-se dia da Igreja,
quando ajuda a experimentar a beleza de um domingo vivido juntos,
evitando a banalidade de um fim de semana consumista, para realizar às
vezes também experiências de comunhão fraterna entre as famílias.
Na família, os filhos experimentam no dia-a-dia a dedicação gratuita e
incansável da parte dos pais e o seu serviço, aprendendo do seu exemplo o
segredo do amor. Quando, na comunidade paroquial, os adolescentes e os
jovens, tiverem que ampliar o horizonte da caridade às outras pessoas,
poderão compartilhar a experiência de amor e de serviço aprendida em
casa. O ensino prático da caridade, sobretudo nas famílias com um filho
único, deverá abrir-se imediatamente a pequenas ou grandes formas de
serviço ao próximo.
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